“Se Olha e não se Toca”
De Santiago Serrano (Junho 2001)
santiagoms_2000@yahoo.com
Tradução de Adriana Cubas e Santiago Serrano
Vencedora do 4ª Concurso Nacional de peças de Teatro Breve
Instituto Nacional del Teatro (Argentina)
O texto está registrado e protegido pelas leis da propriedade intelectual.
Para sua utilização é necessário solicitar autorização ao autor.
Sala de jantar de um apartamento. É de noite . Um homem caminha pelo quarto. Ele fica um segundo quieto e olha dissimuladamente na direção da janela. Sua mulher fala para ele da cozinha.
Mulher:
Ele ainda está olhando?
Homem:
Não posso garantir. Algumas vezes tenho certeza... mas hoje não posso garantir.
Mulher:
Você quer que eu olhe?
Homem:
Não. Qualquer movimento estranho fará com que ele tenha mais vontade.
Mulher:
O que ele procura?
Homem:
Quem sabe. Continuemos com a rotina. Algum dia ele se entediará e deixará de nos olhar.
Mulher:
santiagoms_2000@yahoo.com
Tradução de Adriana Cubas e Santiago Serrano
Vencedora do 4ª Concurso Nacional de peças de Teatro Breve
Instituto Nacional del Teatro (Argentina)
O texto está registrado e protegido pelas leis da propriedade intelectual.
Para sua utilização é necessário solicitar autorização ao autor.
Sala de jantar de um apartamento. É de noite . Um homem caminha pelo quarto. Ele fica um segundo quieto e olha dissimuladamente na direção da janela. Sua mulher fala para ele da cozinha.
Mulher:
Ele ainda está olhando?
Homem:
Não posso garantir. Algumas vezes tenho certeza... mas hoje não posso garantir.
Mulher:
Você quer que eu olhe?
Homem:
Não. Qualquer movimento estranho fará com que ele tenha mais vontade.
Mulher:
O que ele procura?
Homem:
Quem sabe. Continuemos com a rotina. Algum dia ele se entediará e deixará de nos olhar.
Mulher:
Homem ou mulher?
Homem:
Uma silhueta na janela, isso é tudo o que eu vi com o rabo do olho.
Mulher:
Por que construíram os prédios tão próximos?
Homem:
Para que coloquemos nós a distância.
Mulher:
Talvez esteja sozinho.
Homem:
Eu só vi uma silueta.
Mulher:
Provavelmente ele inveja a gente.
Homem:
Quem pode saber?
Mulher:
Dois ovos ou um?
Homem:
Um.
Mulher:
Fritos ou pochê?
Homem:
Pochê.
Mulher:
Picanha ou costela?
Homem:
Costela. Aí está ele!
Mulher:
Você pode vê-lo?
Homem:
Sim. Já está com o quarto em penumbras, olhando.
Mulher:
Já posso trazer a comida?
Homem:
Sim, mas não seja canastrona. Seja natural. Qualquer mudança faz com que ele tenha mais vontade.
Mulher:
Aí vou.
Homem:
Devagar.
Mulher:
Hoje estou nervosa, prefiro ficar na cozinha.
Homem:
Ele ficará horas esperando para ver você.
Mulher:
Abaixa a persiana e assim teremos uma noite só para a gente.
Homem:
Odeio ter a janela fechada. Tenho claustrofobia. Que ele feche a janela. Entre agora, devagar.
A mulher entra finalmente. Está muito tensa.
Mulher:
Assim está bom?
Homem:
Legal. Avance, não pare.
Mulher:
Por que você não interfona para o apartamento dele e lhe diz para não nos olhar mais?
Homem:
Que prova temos de que ele nos espia? Se nós estivermos enganados? Ele zombará de nós. Vai achar que somos paranóicos. Ele tem direito de olhar pela sua janela.
Mulher:
E nós temos direito à privacidade.
Homem:
Calma. Sente-se, vamos jantar. Ele irá embora, vai se entediar e irá embora.
Mulher:
Talvez ele goste de nossa rotina, nossa repetição constante.
Homem:
Quem sabe.
Mulher:
Faz mais de um ano que ele nos olha.
Homem:
Exatamente dezesseis meses e vinte e dois dias.
Mulher:
Foi quando você o descobriu. Você não pode assegurar de que tudo não começou muito antes.
Homem:
É verdade. Mas eu acho que essa foi a primeira vez. Jamais antes tinha sentido o que senti a partir desse dia até hoje: uma presença… uma intrusão... .
Mulher:
Ainda está olhando?
Homem:
Está. Eu acredito. Sirvo vinho para você?
Mulher:
Hoje não posso tolerar esta tensão. O jantar é nosso único momento de intimidade.
Homem:
Ele se moveu. Está inquieto. Relaxe!
Mulher:
Que eu relaxe ou que ele relaxe?
Homem:
Relaxem os dois! E o pão?
Mulher:
Não comprei hoje.
Homem:
Como não comprou!?
Mulher:
Foi uma brincadeira. Uma brincadeira que já tem dezesseis meses e vinte e dois dias. Esse dia eu te disse que não tinha comprado. Agora vou trazê-lo. Calma.
Homem:
Devagar.
Mulher:
Eu sei que um dia não vou comprá-lo realmente, assim tudo isto termina.
Homem:
Não faça essa loucura!
Mulher:
Quem é que ele vigia? A você ou a mim?
Homem:
Vai começar de novo? Não criemos rivalidade.
Mulher:
Algumas vezes penso que ele se masturba perto à janela. Não o vê movendo-se ritmicamente?
Homem:
Já disse a você que não. Como poderia excitar-se com um casal que come seus alimentos?
Mulher:
A sexualidade é muito vasta.
Homem:
Tão vasta?
Mulher:
Assim dizem.
Homem:
Mulher:
Dois ovos ou um?
Homem:
Um.
Mulher:
Fritos ou pochê?
Homem:
Pochê.
Mulher:
Picanha ou costela?
Homem:
Costela. Aí está ele!
Mulher:
Você pode vê-lo?
Homem:
Sim. Já está com o quarto em penumbras, olhando.
Mulher:
Já posso trazer a comida?
Homem:
Sim, mas não seja canastrona. Seja natural. Qualquer mudança faz com que ele tenha mais vontade.
Mulher:
Aí vou.
Homem:
Devagar.
Mulher:
Hoje estou nervosa, prefiro ficar na cozinha.
Homem:
Ele ficará horas esperando para ver você.
Mulher:
Abaixa a persiana e assim teremos uma noite só para a gente.
Homem:
Odeio ter a janela fechada. Tenho claustrofobia. Que ele feche a janela. Entre agora, devagar.
A mulher entra finalmente. Está muito tensa.
Mulher:
Assim está bom?
Homem:
Legal. Avance, não pare.
Mulher:
Por que você não interfona para o apartamento dele e lhe diz para não nos olhar mais?
Homem:
Que prova temos de que ele nos espia? Se nós estivermos enganados? Ele zombará de nós. Vai achar que somos paranóicos. Ele tem direito de olhar pela sua janela.
Mulher:
E nós temos direito à privacidade.
Homem:
Calma. Sente-se, vamos jantar. Ele irá embora, vai se entediar e irá embora.
Mulher:
Talvez ele goste de nossa rotina, nossa repetição constante.
Homem:
Quem sabe.
Mulher:
Faz mais de um ano que ele nos olha.
Homem:
Exatamente dezesseis meses e vinte e dois dias.
Mulher:
Foi quando você o descobriu. Você não pode assegurar de que tudo não começou muito antes.
Homem:
É verdade. Mas eu acho que essa foi a primeira vez. Jamais antes tinha sentido o que senti a partir desse dia até hoje: uma presença… uma intrusão... .
Mulher:
Ainda está olhando?
Homem:
Está. Eu acredito. Sirvo vinho para você?
Mulher:
Hoje não posso tolerar esta tensão. O jantar é nosso único momento de intimidade.
Homem:
Ele se moveu. Está inquieto. Relaxe!
Mulher:
Que eu relaxe ou que ele relaxe?
Homem:
Relaxem os dois! E o pão?
Mulher:
Não comprei hoje.
Homem:
Como não comprou!?
Mulher:
Foi uma brincadeira. Uma brincadeira que já tem dezesseis meses e vinte e dois dias. Esse dia eu te disse que não tinha comprado. Agora vou trazê-lo. Calma.
Homem:
Devagar.
Mulher:
Eu sei que um dia não vou comprá-lo realmente, assim tudo isto termina.
Homem:
Não faça essa loucura!
Mulher:
Quem é que ele vigia? A você ou a mim?
Homem:
Vai começar de novo? Não criemos rivalidade.
Mulher:
Algumas vezes penso que ele se masturba perto à janela. Não o vê movendo-se ritmicamente?
Homem:
Já disse a você que não. Como poderia excitar-se com um casal que come seus alimentos?
Mulher:
A sexualidade é muito vasta.
Homem:
Tão vasta?
Mulher:
Assim dizem.
Homem:
Não faça trapaças, não introduza o garfo na boca dessa maneira. Isto não é um filme pornográfico. Mulher: Na pornografia também fazem sempre o mesmo. Homem: É verdade. A vida está se tornando pornográfica então.
Mulher:
Não passe a língua pelos lábios.
Homem:
Não acaricie a perna como as prostitutas.
Mulher:
Mulher:
Não passe a língua pelos lábios.
Homem:
Não acaricie a perna como as prostitutas.
Mulher:
Não esfregue a virilha. Homem: Não roce os mamilos com os braços. Mulher: Não sei se poderei resistir mais tempo. Homem: Estou sísmico. Eu tenho uma ereção de grau cinco na escala Mercalli.Mulher: Eu estou molhada.
Homem:
Controle. Controle.
Mulher:
Homem:
Controle. Controle.
Mulher:
Novidades no trabalho?
Homem:
Eu te falo enquanto bebemos o café.
Mulher:
É verdade.
Homem:
Vou trazê-lo.
Mulher:
E se ele for um cego que só olha o interior de seus olhos? Alguém que só vê imagens perdidas e passadas de seu cérebro.
Homem:
Já pensei nisso. Mas se é como você diz, teríamos perdidos dezesseis meses e vinte e dois dias de nossas vidas.
Mulher:
Novidades no trabalho?
Homem:
Despediram Fernandes. Leve as mãos à cabeça.
Mulher:
(Levando as mãos à cabeça) Despediram Fernandes?!
Homem:
Corte de funcionários.
Mulher:
Pobre homem.
Homem:
O importante é que ainda eu não serei despedido.
Mulher:
Quantos Fernandes ainda faltam para serem despedidos?
Homem:
Acho que ainda vai demorar uns dois meses. Logo começarão os Garcia. Até chegarmos aos Peres, felizmente, ainda falta muito.
Mulher:
Não sabe o que aconteceu no supermercado!
Homem:
Isso vem depois que eu acaricio sua cabeça.
Mulher:
Você está errado. Vem agora. Não sabe o que aconteceu no supermercado!.
Homem:
É verdade. Eu me enganei.
Mulher:
Uma mulher devolveu parte da sua compra porque não tinha dinheiro suficiente.
Homem:
É mesmo?
Mulher:
Era uma idosa e tinha um porta-moedas tão pequeno que só pôde comprar um pão e um leite.
Homem:
Que difícil essa situação! Cada dia está pior. Não sei onde vamos parar. (Faz um gesto dramático)
Mulher:
Você tem aperfeiçoado esse gesto. Está cada dia melhor.
Homem:
É mesmo?
Mulher:
Somos afortunados. Ao menos podemos manter nossa rotina. Isso é um luxo.
Homem:
Agora te acaricio a cabeça. Ele adora isso. Nossa visita gosta muito deste momento.
Mulher:
Como você sabe?
Homem:
Sinto que ele se inclina contra o vidro. Ele sente que algo mais vai acontecer.
Mulher:
Talvez agora se masturbe.
Homem:
Não roce os mamilos com os braços.
Mulher:
Não passe a língua pelos lábios.
Homem:
Não acaricie a perna como as prostitutas.
Mulher:
Mulher:
Pobre homem.
Homem:
O importante é que ainda eu não serei despedido.
Mulher:
Quantos Fernandes ainda faltam para serem despedidos?
Homem:
Acho que ainda vai demorar uns dois meses. Logo começarão os Garcia. Até chegarmos aos Peres, felizmente, ainda falta muito.
Mulher:
Não sabe o que aconteceu no supermercado!
Homem:
Isso vem depois que eu acaricio sua cabeça.
Mulher:
Você está errado. Vem agora. Não sabe o que aconteceu no supermercado!.
Homem:
É verdade. Eu me enganei.
Mulher:
Uma mulher devolveu parte da sua compra porque não tinha dinheiro suficiente.
Homem:
É mesmo?
Mulher:
Era uma idosa e tinha um porta-moedas tão pequeno que só pôde comprar um pão e um leite.
Homem:
Que difícil essa situação! Cada dia está pior. Não sei onde vamos parar. (Faz um gesto dramático)
Mulher:
Você tem aperfeiçoado esse gesto. Está cada dia melhor.
Homem:
É mesmo?
Mulher:
Somos afortunados. Ao menos podemos manter nossa rotina. Isso é um luxo.
Homem:
Agora te acaricio a cabeça. Ele adora isso. Nossa visita gosta muito deste momento.
Mulher:
Como você sabe?
Homem:
Sinto que ele se inclina contra o vidro. Ele sente que algo mais vai acontecer.
Mulher:
Talvez agora se masturbe.
Homem:
Não roce os mamilos com os braços.
Mulher:
Não passe a língua pelos lábios.
Homem:
Não acaricie a perna como as prostitutas.
Mulher:
Não esfregue a virilha. Não poderei resistir por muito tempo.
Homem:
Tenho una ereção de grau sete.
Mulher:
Estou molhada.
Homem:
Controle. Controle. Falta pouco.
Mulher:
Afaste-se de mim. Já não posso controlar-me.
Homem:
Minha ereção é muito evidente para me afastar.
Mulher:
Controle. Controle.
Homem:
Já está tudo calmo, o músculo dorme, a ambição descansa.
Mulher:
Ligo a televisão?
Homem:
Sim, ligue.
Mulher:
Está ao vivo, fizeram dois reféns.
Homem:
A segurança não é a mesma de antes.
Mulher:
Que horror ser refém, perder a liberdade!
Homem:
Ele está se movendo. Acho que vai fechar sua persiana.
Mulher:
Até que enfim!
Homem:
Sempre pontual. Cuidado, que ele demora para fechá-la . Gosta de dar uma útima olhada pelas fendas.
Mulher:
É eterno este momento.
Homem:
Talvez se ele não voltasse, nós teríamos saudades.
Mulher:
Você acha? É possível.
Homem:
Ele já se foi.
Mulher:
Por fim, estamos sozinhos. (O casal se olha) Agora somos livres para fazer o que queremos.
Homem:
Como eu gosto de tirar meu terno! (Tira sua roupa)
Mulher:
Nada como liberar a carne! (Tira sua roupa)
Homem:
Eu apago a luz. A luz da televisão é suficiente.
Mulher:
É perfeita.
Homem:
(Os dois aproximam-se da janela e espiam por ela) Os do quinto andar estão tomando a sopa. Com certeza ele faz barulho ao tomá-la. Ela sim, toma a sopa como uma dama.
Mulher:
A mulher do duplex varre de noite. A grandissíssima tonta não sabe que dá má sorte.
Homem:
É uma artista tomando a sopa....
Baixa a luz do quarto. A luz que entra do exterior recorta as silhuetas dos dois na janela.
Homem:
Tenho una ereção de grau sete.
Mulher:
Estou molhada.
Homem:
Controle. Controle. Falta pouco.
Mulher:
Afaste-se de mim. Já não posso controlar-me.
Homem:
Minha ereção é muito evidente para me afastar.
Mulher:
Controle. Controle.
Homem:
Já está tudo calmo, o músculo dorme, a ambição descansa.
Mulher:
Ligo a televisão?
Homem:
Sim, ligue.
Mulher:
Está ao vivo, fizeram dois reféns.
Homem:
A segurança não é a mesma de antes.
Mulher:
Que horror ser refém, perder a liberdade!
Homem:
Ele está se movendo. Acho que vai fechar sua persiana.
Mulher:
Até que enfim!
Homem:
Sempre pontual. Cuidado, que ele demora para fechá-la . Gosta de dar uma útima olhada pelas fendas.
Mulher:
É eterno este momento.
Homem:
Talvez se ele não voltasse, nós teríamos saudades.
Mulher:
Você acha? É possível.
Homem:
Ele já se foi.
Mulher:
Por fim, estamos sozinhos. (O casal se olha) Agora somos livres para fazer o que queremos.
Homem:
Como eu gosto de tirar meu terno! (Tira sua roupa)
Mulher:
Nada como liberar a carne! (Tira sua roupa)
Homem:
Eu apago a luz. A luz da televisão é suficiente.
Mulher:
É perfeita.
Homem:
(Os dois aproximam-se da janela e espiam por ela) Os do quinto andar estão tomando a sopa. Com certeza ele faz barulho ao tomá-la. Ela sim, toma a sopa como uma dama.
Mulher:
A mulher do duplex varre de noite. A grandissíssima tonta não sabe que dá má sorte.
Homem:
É uma artista tomando a sopa....
Baixa a luz do quarto. A luz que entra do exterior recorta as silhuetas dos dois na janela.
FIM
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