O argentino Santiago Serrano abraça Yayá, na lavagem de Taguatinga
Nos últimos 12 dias, o teatro materializou-se e tornou-se visível no DF. Casas de espetáculos do Plano Piloto, Taguatinga e Ceilândia ficaram lotadas de segunda a segunda. Foram mais de 14 mil espectadores que viram 23 espetáculos de Brasília, do Brasil e de seis países. Pela praça do Museu Nacional Honestino Guimarães, passaram 19 mil pessoas.
— É muito bom ver tanta gente assim junta e mobilizada pelo teatro. A sensação que o teatro existe é importante e me deixa em estado de graça, destaca a atriz e professora da Universidade de Brasília (UnB), Bidô Galvão, que ficou impressionada com Rainha(s) (SP) e A obscena senhora D (DF).
Na décima edição, o Cena Contemporânea — Festival Internacional de Teatro de Brasília transcorreu com a naturalidade típica dos eventos consolidados. Em outros tempos, a montagem Ensina-me a viver, com a estrela da tevê Glória Menezes, que ficou dois dias em cartaz na Sala Villa-Lobos, poderia ser uma ameaça. Agora, nem fez diferença.
— O bom é que lotou também. Gostaria que a Glória estivesse aqui, conosco, brindando a festa para o teatro do mundo, observou Guilherme Reis.
Glória Menezes não apareceu (o elenco coadjuvante foi), mas muita gente vinda de outros cantos chegou, mostrando a organização e ao governo do GDF o poder que o festival tem de atrair turistas. De ônibus fretado, estudantes universitários de Campo Grande (MS) aportaram e ainda ganharam ingressos dos produtores. Guilherme Reis conta que foi abordado por pessoas de Belém, São Paulo e Goiânia. Alguns aproveitaram o Cena para conhecer Brasília pela primeira vez.
Quem veio oficialmente convidado também circulou pelo DF, levando imagem de uma Brasília fervilhando culturalmente. O dramaturgo argentino Santiago Serrano, que deu concorrida oficina de escrita cênica, viu duas vezes o espetáculo Eldorado, de sua autoriae escrito para o ator Eduardo Okamoto (SP), circulou pelos teatros da cidade e aproveitou para conferir a lavagem da baiana Yayá, em Taguatinga. Saiu daqui impressionado com a proporção do festival. — É bonito e vibrante. Vim a primeira vez em 2006 e, agora, tomei um susto ao constatar como cresceu, com mostra paralela até em São Paulo, conta Santiago Serrano, que foi fisgado pelas montagens Aqueles dois (Luna Lunera/SP) e El país de las maravillas, com a atriz uruguaia Nídia Telles.
O corre-corre para ver os espetáculos foi alimentado pelas novas mídias sociais como twitter e facebook, o que multiplicou a velocidade do tradicional boca a boca. Montagens, como a francesa La piste là e a mineira Aqueles dois, que tiveram mais dias de apresentações, foram beneficiadas com os comentários virtuais. A diversidade dos espetáculos, aliás, foi o ponto alto do Cena. Foi difícil eleger uma só montagem.
— Interessante é ver que a mesma curadoria que trouxe Rainha(s), sem dúvida o melhor espetáculo, selecionou os equivocados Kiss bill (Canadá) e The hobo grunt cycle (EUA). Mas isso é também o espírito de um festival, montar uma mostra variada. O importante mesmo é constatar que o Cena Contemporânea cresce de uma forma bacana, avalia o ator Adeilton Lima.
O vasto painel permitiu que o analista de sistema Sérgio Artur matasse o desejo de conferir Rainha(s). Ele já tinha tentado em vão assistir em São Paulo. Agora, viu e ficou encantado com o trabalho das atrizes Isabel Teixeira e Georgette Fadel. A coreografa e professora da UnB Márcia Duarte também encabeça a sua lista de preferidos com a livre adaptação do clássico Mary Stuart.
— É tocante. Gostei muito ainda de Appris par corps (França), com a proposta dos acrobatas de quebrar o virtuosismo e alinhar aos movimentos de dança-teatro, explica Márcia Duarte.-
SÉRGIO MAGGIO
Correio Brazilense
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