Logo de um longo caminho de sucesso a minha peça DINOSSAUROS chega a São Paulo.
17 a 20/9 – “Dinossauros” - Grupo Cena (DF - Brasil). CCBB
Transcrevo algumas críticas que a peça, maravilhosamente atuada por Murilo Grossi e Carmem Moretzsohn e dirigida por Guilherme Reis receberam desde seu estreio:
ESTREIO EM BRASILIA
ENCONTRO MARCADO
Sérgio Maggio
Da equipe do Correio
Da equipe do Correio
Poucos atores podem comemorar 25 anos de carreira com um espetáculo tão feliz como Dinossauros. Murilo Grossi e Carmem Moretzsohn protagonizam pequena pérola do teatro produzido em Brasília. Os dois puxam de si toda a experiência para dar movimento à montagem centrada na simplicidade. Sem parafernálias de cenário, trilhas, figurinos; sem artifícios de dramaturgia; sem caricaturas e máscaras de direção. Estão de cara e talento limpos em espetáculo de teatro cru.
A harmonia de Dinossauros parte do texto do argentino Santiago Serrano, um achado do diretor Guilherme Reis. De construção humanista, a peça ergue personagens que ultrapassam o arquétipo do solitário urbano. E se sustenta completamente na essência do casal, delineada a cada palavra. É uma peça cuja ação dramática está na conexão das idéias. Não dá para perder um artigo, uma vírgula.
O texto apaixonante cresce com a direção generosa de Guilherme Reis, que o entrega de presente ao trabalho dos atores. O diretor também mantém o texto no ritmo da sutileza, evitando cair em excessos. Há duas cenas (quando a personagem Silvina dança e quando o casal brinca na rua) em que o humor poderia beirar o rasgado. Em cena, Murilo Grossi parece gigante nos primeiros momentos. A sensação é de que vai engolir Carmem Moretzsohn. Mas o equilíbrio vem de imediato. A personagem Silvina é determinante para a condução da trama – em muitos momentos, aliás, ela a conduz. Carmem se aproveita bem dessas reviravoltas e marca a personagem, num bate-bola de primeira entre os dois atores. Juntos, levam a platéia ao trânsito de emoções, da mais singela à pungente. (SM)
A harmonia de Dinossauros parte do texto do argentino Santiago Serrano, um achado do diretor Guilherme Reis. De construção humanista, a peça ergue personagens que ultrapassam o arquétipo do solitário urbano. E se sustenta completamente na essência do casal, delineada a cada palavra. É uma peça cuja ação dramática está na conexão das idéias. Não dá para perder um artigo, uma vírgula.
O texto apaixonante cresce com a direção generosa de Guilherme Reis, que o entrega de presente ao trabalho dos atores. O diretor também mantém o texto no ritmo da sutileza, evitando cair em excessos. Há duas cenas (quando a personagem Silvina dança e quando o casal brinca na rua) em que o humor poderia beirar o rasgado. Em cena, Murilo Grossi parece gigante nos primeiros momentos. A sensação é de que vai engolir Carmem Moretzsohn. Mas o equilíbrio vem de imediato. A personagem Silvina é determinante para a condução da trama – em muitos momentos, aliás, ela a conduz. Carmem se aproveita bem dessas reviravoltas e marca a personagem, num bate-bola de primeira entre os dois atores. Juntos, levam a platéia ao trânsito de emoções, da mais singela à pungente. (SM)
Crítica: Edelcio Mostaço "Dinossauros" 23/7/2006
"Dinossauros"Cena Promoções Culturais
DELICADEZA
"Dinossauros"Cena Promoções Culturais
DELICADEZA
Nascido de um diálogo com a dramaturgia latino-americana o espetáculo “Dinossauros” veio ao FIT através das mãos do encenador Guilherme Reis. O autor é o jovem Santiago Serrano, da nova safra de autores que abastece o concorrido teatro argentino. O texto, em sua arquitetura e meios expressivos, é bastante simples, desde logo afastando qualquer conotação de simplismo, organizado pelo encontro, ocasional e fortuito, entre uma moça solitária e um homem de meia idade que dividem um mesmo banco de praça.
Todo o interesse dramático está no estudo dos caracteres. Ela é tímida, introspectiva, produto de uma existência pouco ousada, colocada num momento de crise em função da doença da mãe. Ele é casado, perspicaz observador das atitudes alheias, aberto às novas emoções e se descobre capaz de interessar-se por ela.
É o quanto basta – dois atores, um tablado e uma paixão – para ensejar este pequeno estudo de psicologia efetuado, essencialmente, em cima das reações que um provoca no outro. Nesse sentido, a direção de Guilherme Reis mostra-se enxuta, interessada em guiar os intérpretes ao encontro dos gestos mais adequados, das inflexões mais ajustadas, ajudando-os a desenhar os perfis que, pelo acúmulo de pormenores, vão desvendando as duas criaturas ao espectador.
Carmem Moretzsohn imprime à jovem total credibilidade e densidade, numa composição dramática perfeitamente adequada em seus gestos e inflexões. São sempre encantadoras suas atitudes diante das descobertas, dos inesperados, da sucessão de incidentes que, ao longo da trama, a deslocarão da introspecção à entrega sensível. Murillo Grossi incumbe-se da figura masculina, aliando em sua pessoa dois traços significativos: a simpatia e o comedimento. Eles vão se revelar essenciais para que sua criação não ultrapasse os limites entre a vitalidade existencial e a falta de compostura diante de uma mulher que encontra pela primeira vez.
Embora algumas intimidades sejam reveladas um ao outro, tudo permanece na zona sombreada do pequeno mistério, o que adensa e estimula a imaginação do espectador. Esse o mérito maior desta encenação.
Divulgar a produção cênica de nossos irmãos de continente é um projeto mais do que bem vindo, não apenas pelo interesse mútuo, mas, especialmente, pelas possibilidades de diálogos criativos que podem resultar.
Todo o interesse dramático está no estudo dos caracteres. Ela é tímida, introspectiva, produto de uma existência pouco ousada, colocada num momento de crise em função da doença da mãe. Ele é casado, perspicaz observador das atitudes alheias, aberto às novas emoções e se descobre capaz de interessar-se por ela.
É o quanto basta – dois atores, um tablado e uma paixão – para ensejar este pequeno estudo de psicologia efetuado, essencialmente, em cima das reações que um provoca no outro. Nesse sentido, a direção de Guilherme Reis mostra-se enxuta, interessada em guiar os intérpretes ao encontro dos gestos mais adequados, das inflexões mais ajustadas, ajudando-os a desenhar os perfis que, pelo acúmulo de pormenores, vão desvendando as duas criaturas ao espectador.
Carmem Moretzsohn imprime à jovem total credibilidade e densidade, numa composição dramática perfeitamente adequada em seus gestos e inflexões. São sempre encantadoras suas atitudes diante das descobertas, dos inesperados, da sucessão de incidentes que, ao longo da trama, a deslocarão da introspecção à entrega sensível. Murillo Grossi incumbe-se da figura masculina, aliando em sua pessoa dois traços significativos: a simpatia e o comedimento. Eles vão se revelar essenciais para que sua criação não ultrapasse os limites entre a vitalidade existencial e a falta de compostura diante de uma mulher que encontra pela primeira vez.
Embora algumas intimidades sejam reveladas um ao outro, tudo permanece na zona sombreada do pequeno mistério, o que adensa e estimula a imaginação do espectador. Esse o mérito maior desta encenação.
Divulgar a produção cênica de nossos irmãos de continente é um projeto mais do que bem vindo, não apenas pelo interesse mútuo, mas, especialmente, pelas possibilidades de diálogos criativos que podem resultar.
Edélcio Mostaço – Florianópolis: Crítico teatral, ensaísta, professor formado em Direção Teatral e Crítica pela USP com vários trabalhos publicados, participante ativo de festivais de teatro no Brasil e exterior.
Críticas: Kil Abreu "Dinossauros" 24/7/2006
"Dinossauros"Cena Promoções CulturaisBrasília/DFOs
Dinossauros, nossos irmãos
Os Dinossauros de Santiago Serrano, autor argentino revelado no FIT pelo pessoal de Brasília, são sujeitos antes de tudo vitimados por paixões tristes. O apelo dramático da peça, costurada com os fios de um lirismo comovente, é justo o de mostrar delicadamente as feridas abertas de cada um – que podem ser as nossas próprias – e, com esperança indisfarçada, pôr sobre elas o bálsamo que lhes diminui a dor. A história de dois estranhos que se encontram casualmente sentados no mesmo banco de uma estação, guarda, no texto, algum parentesco com a dramaturgia de um teatro absurdo e existencialista. De fato, se a coordenada principal da narrativa se apóia ainda no realismo, a síntese poética proposta pelo autor não mostra interesse pelos detalhes e explicações que dariam sustentação rigorosamente verossímil à cena. Pelo contrário, os diálogos se seguem propositalmente no ritmo urgente das histórias que têm pressa em chegar ao final. E é este andamento ao mesmo tempo cotidiano (porque reproduz uma situação possível) e estranho (porque esta situação evolui de um ponto ao outro em um tempo forjado) que alimenta o charme e a teatralidade do espetáculo. É sem muitas mediações que os lances da vida pessoal vão ganhando espaço. Nicolas, que gostaria de saber tocar o instrumento que carrega, é um sujeito pinçado de algum livro de Dostoievski: apanha da ex-mulher e sai a perambular com uma garrafa de vinho embaixo do braço. Silvina, que gostaria de saber cantar, se acha pouco atraente, uma “antiguidade ambulante”, e conjuga os verbos sempre no passado. O desfile de desejos nos planos de vida de ambos, e suas correspondentes interdições, só reforça a grande falta que os aproxima e os leva a avançar da queixa ao impulso criativo da mudança. Se por um lado esses animais “errados” não podem sair de suas próprias peles para saciar suas idealizações, por outro são capazes de assumir o princípio de realidade, em resistência pactuada que os redime momentaneamente. A montagem dirigida por Guilherme Reis encontra os caminhos acertados para valorizar tanto o material dramatúrgico quanto o trabalho dos atores. Não se preocupa em referenciar o palco com imagens outras que não venham através da palavra. Um banco e um fundo azul é solução cenográfica que esvazia propositalmente as circunstâncias espaciais para que a cena seja mantida concentrada em uma espécie de suspensão poética. O artifício é muito feliz.O trunfo principal, porém, está na dupla de atores brasilienses. Carmem Moretzsohn e Murilo Grossi cumprem com a tranqüilidade dos veteranos, em desempenhos comoventes, as nuances que vão do sentimento de trágico abandono às tentativas, por vezes cômicas, de respiro das personagens. Pequena grande jóia, a montagem reafirma a potência de um teatro econômico nos recursos materiais e valioso no resultado artístico.Kil Abreu
Kil Abreu – de São Paulo: Pesquisador de teatro, crítico, jornalista, compõe a banca de jurados do Prêmio Shell e da APCA, e participa da curadoria do Festival de Teatro de Curitiba.
Kil Abreu – de São Paulo: Pesquisador de teatro, crítico, jornalista, compõe a banca de jurados do Prêmio Shell e da APCA, e participa da curadoria do Festival de Teatro de Curitiba.
Beth Néspoli
Fragmento do comentario geral do FIT
Aparentemente singelo e despretensioso, Dinossauros, dueto de dois ótimos intérpretes, Carmem Moretzsohn e Murilo Grossi, foi outro destaque na reta final do FIT. O encontro de dois desconhecidos que dividem um banco, de madrugada, numa cidade, começa por um estranho atrito entre o aparente realismo do texto e a inverossimilhança da situação. Mas aos poucos a fabulação, já presente no cenário indefinido, vai se mostrando e a montagem alcança o raro feito de retratar algo pelo seu oposto: a aridez do espaço urbano e sua interferência nas relações humanas se revela no comportamento improvável do casal de 'dinossauros', que faz até piquenique em banco de praça.
Miguel Anunciação
Bons atores sobressaem em ‘Dinossauros‘
Instalado num espaço menor, para menos de 100 pessoas, “Dinossauros” não cria a expectativa de ser pretensiosa. Escrita por Santiago Serrano, dirigida e iluminada por Guilherme Reis, coordenador do festival Cena Contemporânea de Brasília, traz dois personagens à cena (Murilo Grossi e Carmem Moretzsohn), dois sujeitos à mingua, sem perspectivas futuras, que se encontram por acaso em noite alta.Ele foge de um casamento sem afetos, uma esposa agressiva, um emprego sem eiras; ela se permite uma folga na agenda de solteirona, apegada à mãe doentia, sem entregas amorosas. A encenação ilustra este encontro fortuito num banco de praça, entre suposições descabidas e projeções de parte a parte. É uma situação recorrente na dramaturgia, seja no teatro, no cinema ou na TV. Sujeitos desgarrados, que conquistaram pouco ou perderam muito, em busca de refúgio ameno, caloroso. Nestes casos, importa menos se aquilo o que vemos não corresponde ao que já vivemos, se mantém os pés na realidade. Completamos o que a cena carece de veracidade com nossas próprias fantasias de um encontro mágico, redentor, com nossas projeções de libido. Bons atores, sedutores, Murilo e Carmem se instalam bem nos limites dispostos pela direção, numa cena terna, recatada, na qual o desejo ameaça prevalecer em várias instantes. Permanecerá assim, se equilibrando no meio, sem avançar sinais. Não avançará, sob pena de alcançar o terreno do pornô ou ter a cara que o afeto dos atores imprimir.Qualquer passo além do previsível trairá o que desejamos que aquilo seja, nosso segredo contado por outros. De preferência, que não termine em algo feliz para não parecer piegas. Apenas deixe no ar uma promessa, que possamos preencher as lacunas conforme nossos interesses, nossas necessidades. Violando a praxe, “Dinossauros” acaba firmando um princípio de felicidade discreta. Talvez por isso, nos parece simpático, agradável, além das outras qualidades que ele possui.
* Viajou a São José do Rio Preto a convite do Festival de Teatro.
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