martes, 20 de diciembre de 2011

O processo de criaçao de "ELDORADO"





ELDORADO
Espetáculo de Eduardo Okamoto tem direção
de Marcelo Lazzaratto e
dramaturgia de Santiago Serrano


Um instrumento musical que pode ter três, quatro ou seis cordas e que pode variar sua afinação, seu formato, madeira usada. Assim é a rabeca: instrumento de arco e cordas que se espalhou em manifestações da cultura popular pelos quatro cantos do Brasil. Este instrumento foi tomado como estimulo criativo para o solo “Eldorado”, que o ator Eduardo Okamoto estreou no SESC Campinas, em outubro de 2008.

Uma das características fundamentais da rabeca é justamente a ausência de padrões na sua construção e execução. A rabeca não é um instrumento fabricado em série. É produzido não por indústrias, mas por artistas-artesãos.
Por isto, não há uma rabeca igual à outra. Disto resulta que cada rabeca possui suas características peculiares, uma “voz” própria.

Para Okamoto, esta ausência de padrões parece incorporar, como analogia, as origens do povo brasileiro que, como aponta Darcy Ribeiro, é “povo em fazimento”. Para o antropólogo, o principal produto da colonização é a fundação deste novo povo-nação, fundado na mestiçagem: os brasileiros. Esta possível analogia, estimulou Eduardo Okamoto a estudar um pouco mais a rabeca e os rabequeiros.


Um Eldorado próximo
A fim de conhecer rabequeiros e construtores de rabeca, Okamoto realizou pesquisas de campo nas cidades de Iguape e Cananéia, no litoral sul de São Paulo. A região é conhecida por sua grande concentração de elementos da cultura caiçara, entre eles o Fandango: manifestação que compreende música e dança e que pode ser vista no litoral de São Paulo e Paraná. A rabeca é um dos instrumentos, ao lado de cavaquinho, viola e adulfo (instrumento de percussão) que acompanha os bailes fandangueiros.

Nesta viagem, o ator percorreu parte do Museu Vivo do Fandango: um circuito de visitação pelas cidades de Iguape e Cananéia (SP), Guaraqueçaba, Paranaguá, e Morretes (PR). O circuito é divulgado através de site (www.museuvivodofandango.com.br), folhetos, livro e cds e envolve casas de fandangueiros e construtores de instrumentos, clubes e casas de Fandango, lojas de artesanato, bibliotecas, centros culturais e pontos de consulta.

Em Iguape e Cananéia, Okamoto recolheu músicas, histórias e estórias, ações, gestos, vozes de rabequeiros. De volta à Campinas, o ator incorporou todo este material, a partir da Mìmesis Corpórea: metodologia desenvolvida pelo LUME Teatro que se fundamenta na observação e imitação de pessoas, animais, fotografias e pinturas. Desde 2000, o Lume contribui diretamente para o trabalho de Eduardo Okamoto, que também atua como ator convidado na “Parada de Rua”.

De seus deslocamentos da viagem de campo e de seu material físico e vocal, Okamoto intuiu um personagem e um argumento possível para a dramaturgia do espetáculo: um cego de nascença caminha em busca de um Eldorado. Nesta busca, uma rabeca é sua companheira de viagem e seu guia.

Curioso é observar que, na região onde foi realizada a pesquisa, é possível ver a cidade de Eldorado, há poucos quilômetros de distância onde esteve o ator. Eldorado, parecia estar próximo, mas ainda não se podia alcançá-lo.


Criação Dramatúrgica
Para estruturar e desenvolver sua proposta, Okamoto convidou o dramaturgo argentino Santiago Serrano. Os dois se conheceram no Cena Contemporânea – Festival Internacional de Teatro de Brasília, em 2006. Ali, o ator apresentava seu solo anterior, “Agora e na Hora de Nossa Hora”. A dramaturgia lírica de Serrano, que naquele ano teve sua peça “Dinossauros” encenada com sucesso por artistas brasilienses, pareceu a Okamoto uma abordagem ideal para seu espetáculo.

A fim de criar a peça, ator e dramaturgo mantiveram uma intensa correspondência por Internet. Okamoto enviava informações, textos, músicas e vídeos que pudessem inspirara criação da peça. Serrano, enviava, aos poucos, a dramaturgia do espetáculo que, então, era testada em sala de ensaios e modificada. Durante o processo, os dois ainda se encontraram pessoalmente, em São Paulo, onde ajustaram suas criações.


Finalização do espetáculo
Com texto e personagem constituídos, faltava ao trabalho uma proposta de encenação. Isto foi dado no encontro com o diretor Marcelo Lazzaratto, diretor da Companhia Elevador de Teatro Panorâmico, de São Paulo. Lazzaratto, que já assinava a iluminação de “Agora e na Hora de Nossa Hora”, solo anterior de
Okamoto, também ilumina este “Eldorado”.

O processo de criação de “Eldorado” sustenta-se, sobretudo, na interação entre o material corpóreo levantado por Okamoto e a criação literária de Santiago Serrano. O espetáculo pretende, por isto, valorizar o processo na sua força: atuação e texto. Assim, emprega pouquíssimos recursos materiais, transferindo
para o corpo do ator, para o uso da palavra e para a iluminação as tarefas de significação. Sobre o palco nu, destaca-se pela luz a presença de um homem cego que anda em círculos e imagina, cria, inventa realidades em busca do conhecimento.

Na finalização do trabalho, Luiz Henrique Fiaminghi, do grupo Anima, realizou a preparação em rabeca do ator (que executa parte da trilha sonora ao vivo) e desenvolveu uma pesquisa musical para o espetáculo. Usando exclusivamente a rabeca como instrumento, a trilha desenha paisagens, dialoga com o ator e cria
ambientação emocional. Verônica Fabrini, diretora da Boa Companhia e de “Agora e na hora...”, assina o figurino.



http://www.canalaberto.com.br/release.php?n=456