Grupo Cena apresenta Chico Sant’Anna e Sérgio Fidalgo em Fronteiras, de Santiago Serrano, com direção de Guilherme Reis
Local: Espaço Cena - 205 Norte, bloco C, loja 25, - Asa Norte - 3349-3937
Data: Quinta a Domingo, às 19h30
Preço inteira: R$ 20Preço meia: R$ 10
De: 14/05/2009Até: 24/05/2009Informações: 3349-3937
Crítica
Fronteiras -Teatro potente
Sérgio Maggio
Da equipe do Correio
A linha imaginária que divide pátria indigna de seus cidadãos de utópica nação vizinha é marcada pela humilhação, frustração, desespero e desesperança. Os que sonham em entrar num mundo em que se oferecem oportunidades nas vitrines costumam ser espalmados como “moscas” renitentes em torno da iguaria. Com poesia e sensibilidade, o dramaturgo e psicanalista argentino Santiago Serrano parte da violenta condição de quem se refugia para discutir as barreiras e os muros erguidos ao meio das relações humanas. Texto de narrativa crescente e apoiado na arquitetura dos diálogos, Fronteiras é reflexão para pensar no convívio mais íntimo, muitas vezes mutilado pela indiferença ao outro. Essa obra, rara em sua leveza, ganha o palco do Espaço Cena (205 Norte) pelas mãos sensíveis do diretor Guilherme Reis. Da cenografia emocionante só de fitá-la (trabalho em lona de caminhão oxidada com limalha de ferro, executado por Gustavo Magalhães e Dani Estrela) à luz de Dalton Camargos, que no espetáculo funciona como as primeiras palavras, Fronteiras é montagem que arrasta a platéia com os olhos. Difícil se reter no movimento do texto erguido no corpo dos atores Chico Sant’Anna (Tonito) e Sérgio Fidalgo (Pascual).
Em duelo que cresce vertiginosamente quando os dois contracenam, os intérpretes ficam à altura da complexidade de alegorias associadas aos personagens da dramaturgia de Santiago Serrano. Sérgio Fidalgo, sobretudo, aproveita cada segundo de pulsão de Pascual. A interpretação (corpo/voz/composição) consegue agrega-se ao ritmo natural da narrativa de tal forma que fica una e indissociável da matriz dramatúrgica. É, sem dúvida, um dos melhores trabalhos desse ator, marcado em Brasília pela participação mais coadjuvante. Com personagem que se desmonta ao longo do fluxo narrativo, Chico Sant’Anna estabelece momentos de forte dramaticidade no jogo com Sérgio, mas apresenta certa artificialidade para conduzir o difícil processo de transmutação de Tonito, que começa exageradamente cínico nos primeiros minutos, para depois brincar como menino. A afinação natural da temporada deve ajustar o que parece ser uma sintonia fina no potente duelo que os atores constroem, principalmente, na segunda jornada (a da narrativa compartilhada dos atores sobre amores femininos), ápice do texto. Candidato a repetir o sucesso nacional de Dinossauros, também de Santiago Serrano/Guilherme Reis, Fronteiras provoca o espectador em seqüências de intenções detalhadas (olhares, gestos), num trabalho de direção de cena orientado por Dimer Monteiro. Na afinação, Fronteiras deve uma sonoplastia mais trabalhada às imagens sugeridas pela dramaturgia, que poderiam ressaltar ainda mais momentos memoráveis como a passagem de revoada de patos e a luta contra o vento numa remissão ao clássico Dom Quixote. Ao final, a montagem mexe, inquieta e modifica sem precisar reproduzir o hostil território das fronteiras, sejam geográficas, sejam interpessoais. (SM)